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Merlo

Merlo

Sex | 28.02.25

O Rapaz perdido que há em mim

Marco

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Há dias em que o silêncio grita mais alto do que qualquer multidão. Dias em que olho à minha volta e vejo o mundo seguir em frente, enquanto eu fico para trás, preso numa espera sem fim, à procura de algo que nem sei nomear.

Sempre fui um rapaz perdido. Não porque escolhi estar só, mas porque nunca soube onde pertencia. Cresci a tentar encaixar, a tentar fazer parte de algo, mas havia sempre uma barreira invisível entre mim e os outros. Como um vidro espesso que me separava do resto do mundo, um reflexo distorcido que mostrava alguém que não sabia bem quem era.

E então, um dia qualquer, ouvi Lost Boy e ficou na memória para sempre.

No início, foi apenas uma melodia, mas depois… depois, as palavras começaram a doer. Era como se alguém tivesse arrancado os sentimentos que eu nunca consegui explicar e os tivesse colocado numa canção.

"Nunca tive um lar, nunca tive ninguém que se importasse."’’

Parei. Fechei os olhos.

Chorei por todas as vezes em que me senti invisível. Por todas as noites em que adormeci a perguntar-me se alguém notaria se eu desaparecesse. Por todas as promessas de que "as coisas vão melhorar" que nunca passaram disso – promessas vazias.

Na música, Peter Pan surge como um salvador, estendendo a mão a alguém que não tinha mais ninguém. Um convite para fugir, para encontrar um lugar onde a dor não existe. E, por um momento, acreditei nisso. Por um momento, fechei os olhos e imaginei-me a voar para uma Neverland onde não havia solidão, onde ninguém era esquecido, onde finalmente poderia respirar sem sentir esse peso constante no peito.

Mas Neverland não é real.

Podemos fugir por um tempo, perder-nos em sonhos e canções, mas, no final, a realidade sempre nos encontra. Sempre nos puxa de volta.

E o mais difícil de tudo não é estar perdido. É perceber que ninguém está à nossa procura.

Talvez um dia eu encontre um lugar onde pertença. Um canto do mundo onde alguém olhe para mim e diga: "Aqui. Aqui é onde ficas. Aqui és importante."

Mas até lá… continuo a caminhar. Perdido. Invisível. Esperando que, um dia, alguém repare.

 

 

Ter | 25.02.25

Quando Quem Nos Faz Rir Já Não Consegue Rir

Marco

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As pessoas não fingem depressão, elas fingem estar bem.

Robin willians

Falo de Whindersson Nunes, um humorista e cantor brasileiro. Foram tantas as vezes em que o meu espírito estava sombrio, sem luz, e recorri aos seus vídeos para sorrir. Histórias simples, talvez fáceis demais para alguns, sem grande conteúdo ou piada, mas tinham um único propósito: arrancar um sorriso desta boca que tantas vezes se esquece de sorrir.

Não sou especialista, ou talvez finja não ser, porque, o que vivo e o que já li, mais que pareço. A depressão não é algo que se resolve com um comprimido comprado numa farmácia. Não desaparece de um dia para o outro (nem sei se alguém dia desaparece). Ela está sempre presente. Perante os outros colocamos a máscara que está tudo bem, sorrimos, brincamos, apoiamos, cantamos, damos opinião, fazemos piadas, mesmo que não nos apeteça, não sentimos, ou mesmo que por dentro estejamos destruídos. Tem vezes que vez de uma forma devastadora e destruidora.

 A vida? É feita de momentos altos e baixos, a depressão anula os altos, e esses mesmos altos passam a ser baixos também, deixando tudo ao mesmo nível dos baixos. Teve momentos que acreditei que era só momento mau, que iria passar, mas passa dias, semana, meses, etc. e continua. E passa simplesmente aceitar, sei qual é o único “remédio” capaz de silenciar a dor da tristeza.

Se me perguntassem qual é a pior parte da depressão, eu responderia: saber que estou deprimido e, ainda assim, ser incapaz de fazer algo para não piorar. A depressão rouba-nos a noção do tempo e de repente, os dias misturam-se, formando um intervalo sufocante e sem fim.

Tento lembrar-me do que já me fez feliz, mas, lentamente, o meu cérebro apaga essas memórias e torna uma incapacidade de criar novas. Chega um momento em que só consigo pensar que a minha vida sempre foi assim… e que sempre será.