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Merlo

Merlo

Sex | 04.07.25

Correr para me encontrar

Marco

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Final de tarde. O calor ainda aperta, mas decido sair para correr. Sem grandes planos, só eu, o corpo e o que vier.

O lugar é calmo. Programo o relógio, coloco os headphones. Começa a contagem. O primeiro quilómetro custa — tudo dói. As pernas, a respiração, a cabeça cheia de dúvidas. "Por que raio estou a fazer isto?", penso. Mas insisto. Sei que é só até o corpo ceder.

E então cedo. Entro no automático. Os pensamentos silenciam-se. Corro. Só isso.

Pelo caminho cruzo-me com outras vidas: gente a correr também, alguns apenas a passear, outros com o cão a puxar a trela. Sigo firme. Mas por vezes, sinto os olhares. Não sei porquê. O que será que veem em mim? Tento ignorar, focar-me no passo, no som da música, no chão que deixo para trás.

Chego a uma zona onde preciso atravessar. Uma passadeira larga, daquelas que parecem proteger — mas nem sempre. Olho para a esquerda: vem um carro, mas abranda. Avanço. Olho para a direita. O outro ainda vem longe. Já estou no meio da passadeira. Vai ver-me, penso. Vai abrandar.

Mas não.

O Peugeot 3008 avança como se eu fosse invisível. Se não paro, era atropelado ali mesmo. Um susto. Uma travagem brusca no peito e nos passos.

Mas não paro. Volto a correr. Ainda falta caminho até à meta. E depois de tudo... também estou com pressa. Pressa de chegar a mim.

 

PS. perdi o meu bloco de desenhos, mas também a inperação tem andado para menos infinito, irei tentar trazer alguns desenhos novos.

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