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Merlo

Merlo

Sex | 14.10.22

Despertador toca

Marco

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Despertador toca, carrego no botão para tocar daqui a 5 minutos. Fico a pensar se vou mesmo caminhar, já está frio, sinto tanto sono, adormeci tarde para variar. O levantar-me agora é a diferença de poder ficar mais 1 hora na cama. Toca a segunda vez, dou-lhe mais 5 minutos, ficou ali mais uns minutos levanto-me e vou casa de banho, lavo a cara com água fria, visto umas calças de treino uma t-shirt e procuro o casaco, este último nem sei porquê porque caminho 5 minutos e já estou a arder. Vou sapateira procurar umas sapatilhas mais quentes porque as que uso são mais de verão, são de uma espécie de rede e passa muito ar, se calhar não consigo explicar, elas são muito fixes, calço-me e agarro os headphones e saio e um boné, para não apanhar frio na mioleira. Desço as escadas e na porta encontro a minha vizinha, ela é idosa e tem muita dificuldade em andar, normalmente nunca encontro ninguém, as vezes penso que sou o único que mora aqui. Dou-lhe os bons dias e sigo a minha viagem, acerto o relógio com o treino de caminhada, escolho uma playlist aleatória. Na verdade, aqueles primeiros 5 minutos são os piores, sinto-me mole, sem vontade e a questionar porque vou. Na verdade, não sei, mas estou dividido, uma parte quer que vá a outra não. A cidade ainda está a acordar as ruas ainda se encontram vazias, as mesmas que daqui umas horas estão cheias de turistas e que para circular tem de se desviar de tudo e todos. São turistas não os culpo por isso, e ficam admirados com tudo e param por tudo a tirar fotografias. Pouco a pouco vou definindo o meu ritmo de passo, e vou me cruzando com algumas pessoas sempre apressadas para o trabalho, algumas ainda com cara de sono. Hoje vi uma gaivota e tentar abrir um saco de pão que provavelmente tinha sido deixado na rua, achei interessante. A música vai alterando e eu sentido já o peso da caminhada, com as pernas a dizerem para abrandar e a cabeça e ordenar que não. Mesmo assim chego as ruas mais movimentadas e já descrevi algumas vezes aquela dificuldade dos olhares, aqui fica mais difícil porque sempre apanho algumas a olharem para mim e fico sempre atrapalhado. Gosta de ler os pensamentos só para descobrir porque olham para mim. Nestas caminhadas matinais cruzo-me sempre com muitos pedintes, nem tinha essa noção que já andavam na rua a estas horas, provavelmente para apanharem as pessoas que vão trabalhar, alguns pende-me, fico sempre com cara de sem saber o que fazer porque nunca levo dinheiro, o que vai no bolso é a chave, um pacote de lenços de papel e o telemóvel e se não vão enfiados nos ouvidos os headphones. 

A primeira música da playlist era "Spring is Coming", com quem quer dizer "a primavera está chegando", ainda fala uns meses. Claramente que foi o suficiente para ficar em loop na minha cabeça, e ouço cada nota daquele piano. 

Como o ritmo é acelerado vou sempre ultrapassando as pessoas e ais que chego a casa subo as escadas, tomo banho troco de roupa e vou trabalhar, e assim termina mais uma caminhada. 

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