Falando de depressão
Quando alguém chega ao ponto de considerar tirar a própria vida, a conexão afectiva com as pessoas que ama, ou que o rodeiam, já foi destruída há muito tempo. Essa pessoa não tem culpa disso. Ela começa a ser seduzida e encantada pela ideia de tirar a própria vida, mas não é para tirar a vida em si, é apenas eliminar a dor que está sentindo. Sente-se vazia, como se estivesse em um estado insensível, não sentido nada. Ela sabe o que é sentir o aconchego de um abraço, o sabor de uma comida que costumava trazer explosões cerebrais, mas isso não acontece mais. Esse é o castigo existencial gigante.
A sensação do processo depressivo é invisível, e está vivo, mas ela não sente absolutamente nada. Nada o encanta mais, nada lhe traz prazer. É como estar no fundo do poço, mas o engraçado que ainda sente a dor, mas essa dor é apenas existencial. É a dor de não sentir nada, é o castigo de um processo perceptivo. Ela sabe como era viver naturalmente e sentir o prazer da vida, e nesse momento, está consciente de que não está sentindo nada, e isso começa a se tornar angustiante e uma tortura.
Ela começa apenas a ter percepção visual, lembrar de um lugar, lembrar de um beijo, lembrar da paisagem que amava, do por do sol, ou do sabor delicioso de um doce. Mas está simplesmente bloqueado de todas as sensações e até questões sensitivas. Ela sabe que seu tato está lá, seus braços estão se movimentando, que sua boca está deglutindo, que sua língua está funcionando, mas aqui, na cabeça o grande milagre das explosões eléctricas simplesmente não acontece mais.