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Merlo

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Dom | 16.04.23

Relatos de um Marco - Dia de ir ao senhor doutor #8

Marco

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A manhã, estava calma, mas por dentro em ebulição, era dia de ir ao senhor doutor (era mais o caso ir á senhora doutora). Para juntar a festa o telemóvel não tinha carregado durante a noite. Já alguns dias que andava a avisar que o cabo não estava bom, mas o teimoso não quis ir comprar outro, agora só tinha 15% e não ia dar para a viagem nem para carregar durante ela. Saio a correr e vou buscar o único cabo que tenho que funciona e está no carro e volto com o coração a pular pela boca, de tanta adrenalina. Até a hora de saída não deu para completar a 100%, mas ficou nos 64% já dava, para o GPS e mostrar atendente o SMS da consulta. Como sempre a cidade está inundada de carros, faço sempre a mesma pergunta a mim mesmo, “será que esta gente não trabalha?”, na minha cabeça achava que demorava 30 minutos, claro que ia demorar 50 minutos. Mas ainda ia chegar a tempo.

Cheguei, estaciono o carro no primeiro buraco que vejo, e saio a correr. Entro no Hospital para a consulta, tiro a senha e olho para o relógio e ainda estou dentro do tempo. O coração a mil, por toda esta ansiedade que se estava a cumular. Esta primeira fase fico sempre de pé, á espera para se chamado para o check-in, até parece que vou de viagem, ou estou a dar entrada num hotel caro, só que não, é mesmo só dar entrada para a consulta. Tenho sempre esperança de que este passo é rápido só que nunca é e fico sempre uns largos minutos de pé feita estátua a olhar para um ecrã, até que chegue o meu número. Sou chamado, e saio que nem uma flecha em direção a cabine de atendimento, não é que um idoso chega primeiro para perguntar algo. Eu em brasa, e não quero ser mau, as só me apeteceu tirá-lo dali á força e dizer-lhe para respeitar que chegou primeiro, ele teve tanto tempo agora que é a minha vez é que vai questionar atendente com perguntas existenciais. Mas pronto, foi só o meu anjo mau a falar, respirei fundo e fiquei a trás dele, a senhora lá lhe respondeu e avancei logo, para que mais ninguém se meta a minha frete. Digo para o que vou, mostro-lhe o SMS e dou-lhe o cartão cidadão, isto demorou uns 3 minutos, porque é que há gente que demora 10 minutos? Aquilo não é um café para ir conversar… Já deu para tirar um pouco se pressão porque já tinha feito o check-in, e fui em busca de um lugar para me sentar e que consiga ver o ecrã dos números. Como estava sozinho é mais fácil de encontrar um lugar. E ali fico a olhar para os números a tentar descobrir qual é o número do consultório da doutora, não sei se sou único, mas faço sempre isto. A sala de espera não estava cheia, mas estava bem composta. Ali naquela sala não há muito que fazer, olhar para o ecrã e ver as pessoas sair á pressa para o consultório ou completamente desorientadas. Ver os casais ou os acompanhantes que ficam conversando. Mesmo no meio daquela gente toda sinto-me sozinho, com um aperto enorme no coração. Para me tentar distrair, pego no telemóvel e vou ler noticias, artigos, blogs, é um pouco aleatório. Mas com a mente tão inquieta, fica difícil de ler. Fico ali apensar como a minha vida ficou tão solitária. Sei que aquele lugar não é muito agradável de partilhar, mas ao ver os outros acompanhados, ainda me sinto mais só e triste. Por vezes paro para olhar os números na esperança que seja o meu.

Ais que chegam duas raparigas, uma a conversar com a outra, e segurando os seus telemóveis, e com um cabo na mão. E não lhes dei mais atenção, até que olho para o corredor dos consultórios e lá estão elas agarradas a uma tomada para carregar o telemóvel e ali ficaram de pé. Olha pensei eu, com todo aquele stress de manhã poderia ter carregado no Hospital, se me lembrei não, mas se o ia fazer também não, se calhar estou velho para isso, ou é timidez a falar mais alto.

Entretanto sai a mãe o filho do consultório, ela a borrifar para ele, ele vinha a coxear, mas ela estava mais interessada em falar ao seu telemóvel sobre a consulta. Dois idosos, chegam de mão dada e sentam-se, é muito bonito de ver o carinho que tem um pelo outro, até onde vai o amor.

Ais que ouço o sinal de um novo número e era o meu, olho novamente para ver melhor qual era o consultório, e vou repetindo 37 inúmeras vezes, para não me esquecer. Entro no corredor, vou seguindo a numeração, mas ais que salta do 35 para o 40. E agora onde está o meu consultório? Mas estava mais a frente, porque está assim? Não sei, mas alguma artista achou que ficava bem.

Saio do consultório, atravesso a sala, ainda está composta. Há sempre gente a entrar e a sair, cada uma com as suas maleitas e histórias. Afinal, vamos ali todos pelo mesmo, que nos ajudem.

Passo, pela receção, e não vejo a senha para o pagamento, pergunto atendente, ela disse que enviavam para casa. Gosto mais de pagar logo, assim fica sempre tudo certo, e vivo apenas com o que é meu.

Vou pagar o estacionamento e vou para o carro, fico sempre uns muitos no carro assimilar tudo o que aconteceu e a processar tudo. Esses minutos são intensos, difíceis de controlar algumas emoções.

Depois a todo o gás para casa que, que ainda tenho de trabalhar, sem almoço apenas com algo para enganar o estomago.   

 

Claro que hoje é domingo, não aconteceu hoje, foi um dia destes. Apenas um pequeno relato de um Marco qualquer. Vai haver mais nos próximos dias.

Agora falando do desenho, não sei se reparam tenho desenhado só com um único lápis de cor, tenho achado piada o fazer, fica monocromático. Desta vez calou ao “Magenta”, não sei se sabem, mas o magenta é uma das cores primárias. Para mim, é magenta porque está lá escrito porque para o meu olho é um rosa. E por esse motivo desenhei um porquinho.

E assim termina o meu relato e um beijo e um queijo, até para a próxima.

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